[weglot_switcher]

A folha de balanços no centro da reunião da Reserva Federal

Os mercados dão como certo que a Fed norte-americana não irá alterar as taxas de juro na reunião que termina esta quarta-feira, com o foco centrado na redução da folha de balanços. Veja aqui as novidades que Janet Yellen poderá anunciar.
  • REUTERS/Yuri Gripas
20 Setembro 2017, 09h30

Após cinco meses nos quais desiludiu as expetativas, a inflação nos Estados Unidos acelerou para 1,9% em agosto, dos 1,7% de julho. Razão suficiente para a Reserva Federal anunciar esta quarta-feira um aumento na taxa de juro de referência, a Federal Funds Rate? Improvável.

“Não estou convencido que a Fed irá dizer, com base em só um número, que o susto [sobre a inflação lenta] já passou ”, referiu Tim Duy, professor de economia na Universidade do Oregon, ao Financial Times.

A posição parece consensual entre os economistas que, tendo em conta a cautela que o banco central liderado por Janet Yellen tem vindo a mostrar sobre o ritmo de aumentos das taxas, atribuem uma probabilidade quase nula de uma subida nesta altura.

O debate em relação às taxas está, portanto, centrado na reunião 12 e 13 de dezembro.  Numa sondagem da CNBC, 76% dos 42 analistas contactados disseram que prevêem que a subida ocorra em dezembro – seria a terceira do ano – mas as cotações dos futuros nos mercados colocam a probabilidade dessa decisão entre 43% e 55%.

Divergências e incertezas

Numa nota de research,publicada no início desta semana, Franck Dixmier, Global Head of Fixed Income da Allianz Global Investors (GI) salientou que a expetativa do mercado parece também divergir com as dos membros da Fed.

“Existe atualmente uma diferença notável entre a orientação futura da Fed e as expectativas do mercado quanto aos juros”, afirmou, explicando que segundo o dot plot (gráfico que representa as previsões dos membros),  70% dos membros vêem pelo menos mais uma subida de 25 pontos-base (pb) em 2017, e 80% acredita que os juros deveriam subir ainda mais antes do final de 2018.

“Contudo, os futuros sugerem que os mercados antecipam uma hipótese um pouco acima dos 50 por cento para uma subida de 25 pb até ao final de 2017 e uma hipótese de 60 por cento para um aumento antes do final de 2018”, alertou.

Segundo Dixmier, o cepticismo do mercado decorre de diversos fatores, incluindo a ausência de um contributo positivo dos salários no acelerar da inflação, dúvidas sobre a capacidade da administração de Donald Trump em implementar reformas para estimular o crescimento, os danos causados pelo furacão Harvey na previsibilidade dos indicadores económicos e a renúncia do vice-presidente da Fed, Stanley Fischer.

“Apesar deste cenário de incerteza, a conferência de imprensa da Fed a 20 de setembro pode ainda conferir ao banco central a oportunidade de confirmar o seu compromisso com o aumento dos juros e de manter sua estratégia”, explicou.

Reduzir  o balanço: ritmo e timing

A incerteza sobre o aumento das taxas irá certamente marcar os mercados durante o quarto trimestre, mas a Fed deverá fornecer já esta quarta-feira novidades sobre um outro aspeto do processo da remoção dos estímulos: a redução da folha de balanços.

Como qualquer folha de balanços, a da Fed consiste em ativos e passivos.  No pico da crise em 2008, para evitar um colapso do sistema financeira o banco central começou a comprar ativos norte-americanos (obrigações e outros ativos suportados por crédito imobiliário). O processo prolongou-se até ao final de 2014, quando Yellen o deu por terminado, com a folha de ativos nos 4,5 biliões de dólares.

Com a economia em franca recuperação e no contexto da normalização da política monetária, a Fed anunciou em julho que irá começar a reduzir a folha de balanços “relativamente em breve”.  O banco central já anunciou que a diminuição irá ser gradual  e, além do ritmo da redução, os mercados aguardam que Yellen anuncie o calendário a ser implementado.

“Permanecem em aberto questões relacionadas com o modo como a redução do balanço irá decorrer, nomeadamente a velocidade da normalização. Para além de que se pode questionar qual será a dimensão normal do balanço e o efeito que a redução dos reinvestimentos dos títulos vencidos terá no comportamento das yields dos títulos de taxa fixa norte-americanos”,  salientaram os analistas do BPI, numa nota de research.

Greg Meier, estrategista da investimento nos EUA da Allianz GI recordou que um documento sobre os princípios e planos da normalização de política publicado pela Fed em junho indicava a possibilidade de uma redução mensal de 6 mil milhões de dólares em obrigações e de 4 mil milhões em ativos suportados por crédito imobiliário.

“Esse valores deverão aumentar em termos trimestrais até atingirem um ritmo máximo de 30 mil milhões de dólares e 20 mil milhões de dólares, respectivamente”, acrescentou Meier.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.