Encontros formais entre a CDU de Angela Merkel e o SPD de Martin Shulz que irão ter lugar ao longo desta semana podem finalmente desbloquear o impasse em que a Alemanha caiu face à pulverização dos votos e à dispersão de lugares parlamentares que ocorreu depois das últimas eleições legislativas, que tiveram lugar a 24 de setembro do ano passado.
Depois de uma primeira tentativa promovida pela chanceler Angela Merkel de criar um governo a partir de uma coligação com os verdes e com os liberais – e que não resultou em nada – ficou claro que a única saída era o regresso da chamada grande coligação entre os democratas-cristãos da CDU (e o partido-irmão CSU, da Baviera) e a os social-democratas do SPD. O seu líder, Martins Schulz, passou a campanha eleitoral a afirmar que não voltaria a apoiar a grande coligação. Mas, face à incapacidade da formação de uma coligação alternativa e ao crescente nervosismo do resto da União Europeia com o vazio de poder em que a Alemanha permaneceu nos últimos meses, Schuls parece finalmente (ou formalmente) estar preparado para voltar atrás na recusa.
A chanceler alemã Angela Merkel disse-se “otimista” já no domingo passado em relação a uma primeira ronda oficial de negociações: “acho que podemos conseguir “, afirmou. Estão previstos quatro encontros entre os três partidos envolvidos, com delegações de 13 membros por partido – que deverão estar concluídos no próximo dia 11.
Segundo a imprensa alemã, o primeiro ponto que conseguiu a aprovação de todas as partes foi o da confidencialidade: nenhuma declaração será feira até ao final da reunião de 11 de janeiro, e nenhum dos partidos usará a sua rede de contactos para produzir ‘fugas de informação’ que possam condicionar e fazer perigar os encontros.
Mas o fim definitivo do impasse ainda está longe: depois de concluídas as negociações – e face ao facto de Schulz ter afirmado na campanha eleitoral que não iria aceitar uma coligação com a chanceler, o SPD decidiu, depois de concluídas as negociações, organizar um congresso extraordinário (a 21 de janeiro na cidade de Bona) para ouvir as bases sobre o que tiver sido acordado.
Ou, dito de outra forma: só a 22 de janeiro é que os três partidos conseguirão discutir qualquer coisa mais próxima da solução definitiva, dado que só a partir daí Martin Schulz estará (ou não) legitimado para continuar. O dia 30 de março parece ser o da data da criação de um governo estável para a Alemanha.
Por seu lado, Schulz, igualmente citados pelos jornais, afirmou que “não desenhámos nenhuma linha vermelha, mas queremos muitas políticas vermelhas”: solidariedade, coesão em áreas-chave como o trabalho, educação, investimento na habitação social e cuidados aos mais necessitados.
Será de recordar que, segundo afirmavam há algumas semanas alguns jornais, Schulz terá dado a entender a Merkel que, para aceitar o regresso da grande coligação, teria que ser convidado para o cargo de ministro das Finanças, em substituição de Wolfgang Schauble. Não se conhece a resposta de Merkel, mas o certo é que Schauble é um dos sustentáculos da política financeira do país e ‘por arrasto’ das decisões mais importantes sobre a matéria em termos da União Europeia e da Zona Euro.
Mas a ‘estrela’ de Schauble pode estar a apagar-se – muito por ‘culpa’ do seu homólogo português, Mário Centeno, que de alguma forma ajudou a provar que não havia só um caminho para a recuperação de uma economia nacional depauperada. Entre muitas outras leituras possíveis, a eleição de Centeno para a liderança do Eurogrupo pode querer dizer que a linha alternativa às políticas impostas pelo ministro alemão ganhou e que o seu autor pode ser dispensado.
Seja como for, a Alemanha pode passar ainda os próximos dois meses sem um governo suficientemente estável.
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