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Carlos Alexandre: um super juiz

Na juventude, chegou a ser apoiante de uma lista de António Costa, hoje Primeiro-ministro e líder do PS, para a associação de estudantes da faculdade. Hoje é admirado pelos setores mais conservadores da cena política. É assim, o super juiz Carlos Alexandre.
8 Janeiro 2016, 00h02

Uns dizem que é o juiz do regime, o porta-estandarte da sua ala conservadora mais dura, mais inflexível,
seja do ponto de vista ideológico, seja do ponto de vista moral, refletida na sua conduta pessoal de homem que se quer mostrar frugal e impoluto.

Outros afirmam o seu contrário, que se trata do único juiz em Portugal capaz de enfrentar o sistema, um Baltasar Garzon à portuguesa. Será assim? Quem terá razão? Amado por uns, odiado por outros, a verdade é que poucos lhe são indiferentes e, independentemente de quem tenha razão, nada muda o facto de que este juiz da Beira Baixa, seja hoje uma das figuras mais mediáticas não só do sistema de justiça em Portugal, mas também uma das figuras públicas com mais visibilidade na sociedade. De um lado e do outro da barricada dos que o combatem e dos que o levam em ombros apenas um denominador comum: a convicção.

Nascido em Mação, no seio de uma família humilde, Carlos Alexandre é filho de um carteiro, José
Alexandre, e de uma operária fabril, Narcisa, pelo que, independentemente do seu papel na contemporaneidade, não foi o berço que o colocou na esfera do poder, seja para o servir, seja para o combater.

Diga-se o que se disser, não deve haver muitos juízes no mundo que tenham dado ordem de prisão a um ex-primeiro-ministro e a um dos principais banqueiros do país onde exercem atividade.

Este juiz de Direito do Tribunal Central de Instrução Criminal, licenciado pela Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa, chamou a atenção das luzes da ribalta na sequência de um conjunto de casos que envolveram algumas das principais figuras do Estado, o que o levou, em 2015, a ser considerado o 20.º homem com mais poder em Portugal.

Casos como o do Monte Branco, a operação Furacão, os processos da Portucale, da Face Oculta, do
Remédio Santo, do Labirinto, dos Vistos Gold, a atividade do superpoderoso banqueiro e empresário
luso-angolano Álvaro Sobrinho, o BPN, a operação Marquês e o cerco a Ricardo Salgado, marcam a
trajetória judicial de Carlos Alexandre, tornando-o quase omnipresente em todos os grandes escândalos
da última década e meia.

A operação Furacão é bem o exemplo do comprimento do braço deste juiz. Por exemplo, um dos atuais candidatos à Presidência da República já esteve sob a sua mira. Henrique Neto, em entrevista, diz já ter explicado tudo e pago tudo. Recorda-se de uma peça do jornal I, onde se afirmava que “o administrador da Iberomoldes remeteu às finanças os rendimentos não declarados e pagou o imposto num total superior a 30 mil euros: 22 621, 94 euros, relativos ao ano de 2002, e 8174 euros, relativos a 2005. Um dia depois, foi a vez de a Iber Oleff pagar o que devia às Finanças: 433.487 euros. Por terem pago,
Na juventude, chegou a ser apoiante de uma lista de António Costa, hoje Primeiro-ministro e líder do PS,
para a associação de estudantes da faculdade. Hoje é admirado pelos setores mais conservadores da cena
política. É assim, o super juiz Carlos Alexandre.

Amado e odiado
Religioso desde tenra idade, Carlos Alexandre nunca se afastou da religião – diz quem o conhece que
esta é um dos pilares da sua conduta também na forma como se dedica à justiça. Quem o detesta argumenta que é falsa a sua fama de justiceiro e aponta o facto de este ter sido também o juiz que
deixou José Sócrates quase um ano em prisão preventiva mas que permitiu que Ricardo Salgado tivesse outro tratamento.

Apontam-lhe a crítica do mau exercício da discricionariedade judiciária, protegendo quem é mais próximo do seu quadro de valores e castigando quem está mais distante. Já quem o defende contrapõe com a ideia de ser alguém que nunca se deixou corromper, que o exercício que faz no sistema de justiça não pode ser considerado imparcial porque, a haver essa imparcialidade, teriam de ser visíveis as contrapartidas que daí porventura poderia tirar.

Os amigos que o defendem garantem que, “se tivesse de prender os filhos, não hesitava um segundo”,
mas os inimigos que o combatem são capazes de jurar que todos os processos dão mostras que age de forma facciosa e discricionária.

Quem procura compreender este juiz à luz da ideologia também não fica com a tarefa simplificada.
Nos tempos de estudante, era tido como alguém próximo do Partido Socialista e, nos anos 80, chegou mesmo a ser candidato pelo PS lista à Assembleia Municipal de Mação. Hoje são poucos os que não acreditam que ele não faça parte da Opus Dei. Na juventude, chegou a apoiar uma lista de António
Costa, atual Primeiro-ministro e líder do PS, para a associação de estudantes da faculdade. Hoje é
admirado pelos setores mais conservadores da cena política.

Quando todos os casos estiverem julgados, será decerto mais fácil perceber quem ama ou odeia
com a razão do seu lado.

Por Vítor Norinha/OJE

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