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Lama e Alvorada: poesia reunida de Afonso Cautela mostra tesouro escondido

É o mais importante livro de poemas do ano.
26 Maio 2017, 11h45

O primeiro dos dois volumes da poesia de Afonso Cautela, escrita entre 1953 e 2015, apresentado esta tarde, em Lisboa, na sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, reúne sobretudo inéditos e alguns dispersos de um poeta de dimensão maior, que devido à sua discrição,  sobriedade e independência tem permanecido longe dos círculos do poder literário.

A obra de Afonso Cautela é relevante em muitos aspetos. António Cândido Franco, escritor e investigador na Universidade de Évora, por exemplo, destaca-lhe a linguagem verbal – sem surpresas como um curto-circuito da razão. “Daquela razão estreita, que é o curso dum quotidiano dessacralizado, em que o espaço-tempo não apresenta nenhuma singularidade mortal ou imortal”, sublinha.

José Carlos Costa Marques, o editor, coloca em evidencia certas caraterísticas das temáticas e da sensibilidade de alguma da poesia portuguesa do terceiro quartel do século XX, como a atenção às realidades do mundo e da história contemporânea, o sentido agudo da liberdade da poesia, o destaque tanto às dimensões íntimas, pessoais e subjetivas como humanas em geral, que a aproxima das filosofias da existência. Reunir e editar a poesia de Afonso Cautela foi trazer à superfície “um tesouro enterrado até agora sob camadas profundas de sedimentos ou naufragado nalgum mar abissal”, diz Costa Marques. Não podia estar mais de acordo!

Nascido em 1933 em Ferreira do Alentejo, Afonso Cautela foi professor do ensino primário antes de se tornar jornalista – profissão que exerceu nos jornais República, O Século e A Capital. A sua marca no panorama cultural português dá-lhe, por exemplo, presença na antologia “800 Anos de Poesia Portuguesa”. Publicou “Espaço Mortal”, em 1960, “O Nariz”, em 1961 e “Campa Rasa”, em 2011, nas edições Sempre-em-Pé. Fora da cultura destacou-se como fundador do Movimento Ecológico Português.

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