[weglot_switcher]

Portugal vai ao mercado de dívida: teste duro ou forma de contrariar a pressão?

Após a manutenção do rating pela Fitch, a dívida portuguesa enfrenta novo teste esta semana, agora no mercado. O IGCP quer emitir até 1.250 milhões de euros em obrigações a cinco e sete anos esta quarta-feira.
6 Fevereiro 2017, 07h15

Portugal vai aos mercados esta semana para se financiar até 1.250 milhões de euros a cinco e sete anos, numa altura em que a taxa de juros das obrigações benchmark, ou seja a 10 anos, ultrapassa os 4,1% e negoceia em níveis vistos pela última vez em meados de 2014. De forma preocupante, o diferencial entre essa yield e as das equivalentes da zona euro está aumentar desde o início do ano.

A principais razões apontadas para essa subida das taxas da dívida portuguesa incluem a aceleração da inflação na zona euro e os receios sobre o programa de estímulos do Banco Central Europeu (BCE). Este último fator tem duas vertentes. Primeiro, há a expetativa que o BCE comece a reduzir de forma gradual o ritmo de compras de ativos daqui a alguns meses (o chamado tapering). Segundo, há a percepção que o banco central da zona euro poderá está a chegar ao limite permitido de compras em certas maturidades da dívida portuguesa. As regras do programa determinam que o BCE detenha um máximo de 33% do montante de dívida emitido em cada linha.

Se por um lado a aproximação aos limites do BCE tende a aumentar as taxas de juro, por outro, o Tesouro pode também escolher emitir determinadas linhas em detrimento de outras com vista a alargar a margem de manobra do BCE. Além da necessidade de cumprir o programa de financiamento, o IGCP poderá estar, desta forma, a dar espaço ao BCE para continuar a comprar dívida portuguesa.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) vai realizar o leilão duplo às 10h30 desta quarta-feira, com um montante indicativo global entre os mil e os 1.250 milhões de euros, com maturidades em outubro de 2022 e em fevereiro de 2024.

A primeira emissão de OT este ano foi por venda sindicada, no dia 11 de janeiro, com a colocação de três mil milhões de euros em bonds a dez anos com uma taxa de 4,227%. Nessa altura os analistas destacaram a que a yield era superior ao custo médio da dívida (3,4%) e também bastante mais alta do que os  2,875% numa emissão um ano antes.

As comparações com outros países europeus são inevitáveis, sendo que Portugal é o segundo país a financiar-se a uma taxa mais cara, a seguir apenas à Grécia cujos juros ultrapassam os 7%.

Juros Europa 10 anos

Fonte: Bloomberg

O anúncio do leilão de OT coincidiu com uma avaliação do rating soberano pela Fitch. A agência manteve Portugal com uma avaliação BB+, em território de lixo, com perspetiva estável, considerando que o país continua vulnerável aos desenvolvimentos externos, sobretudo às eleições que vão ter lugar em vários países europeus. Uma possível volatilidade pode também aumentar os custos de financiamento de Portugal e afetar tanto a confiança como o investimento, alertou a Fitch.

Esta questão é especialmente importante pela interligação entre os juros da dívida pública, o rating português e o programa de estímulos do BCE. Portugal só pode continuar no programa de estímulos do banco central se, pelo menos, uma agência de notação classificar o país acima de lixo. A única agência que mantém a avaliação portuguesa nesse nível é a canadiana DBRS, mas a agência já avisou que a perspetiva só continua como confortável se os juros a 10 anos forem inferiores a 4%.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.